Desde o início da instalação do nosso Grupo Espírita Esperança, em Camaragibe, Pernambuco, que tivemos a companhia sempre sábia e bondosa do Pai João de Angola. Com seu jeito carinhoso, mas firme, instrui os nossos trabalhos de maneira geral e, em especial, as atividades de assistência espiritual.
Uma das suas primeiras instruções foi como deveríamos abordar os espíritos que chegassem pelos médiuns. Espíritos sofredores, revoltados, desesperados. A sugestão do diálogo fraterno em oposição à doutrinação tradicional apresentou resultados imediatos e vai ao encontro da proposta de humanização das relações na seara espírita, para os que estão no corpo físico e fora dele. Afinal, como diz adequadamente Carl Gustav Jung, “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
Pai João de Angola nos apresentou uma técnica que poderíamos denominá-la de “Diálogo da Esperança” dividida em cinco etapas: (1) ouça com o coração, (2) aproxime-se pelo afeto, (3) converse fraternalmente, (4) alivie a dor e (5) ofereça esperança.
Ouça com o coração. Escutar é um fenômeno biológico, ouvir é um ato psicológico. Ouvir com o coração, então, é prestar atenção, é estar totalmente voltado para o que o outro pensa, diz e sente. É tentar entender a sua necessidade. Sem recriminação ou preconceito. Ouvir com alteridade, o que pressupõe a empatia. Deixar que aquela alma, em ação psíquica naquele médium, desabafe, coloque para fora os seus traumas, as suas queixas, o seu sofrimento. É como deixar o copo da amargura interior secar para poder iniciar o diálogo. O propósito é sair do clímax do seu tormento existencial.
Aproxime-se pelo afeto. Diante das informações recebidas tente estabelecer aquilo que em psicologia se denomina de rapport. A tentativa de estabelecer uma sincronicidade. Uma aproximação afetiva. Solidarize-se com aquele irmão em dor. Ofereça apoio. Demonstre a sua vontade de ajudar. Ele deve perceber em você um amigo, alguém confiável e nunca um recriminador dos seus atos, um corretor de conduta. A ideia é criar um elo confiável de relacionamento.
Converse fraternalmente. A relação deve ser de iguais, de irmão para irmão. Um diálogo aberto e na perspectiva do futuro. Não é aconselhável, diferentemente do que normalmente se faz nesta ocasião, entrar no mérito do problema que o espírito apresenta. Problema que o angustia há anos, às vezes há séculos, e que não se espera uma solução em dez minutos de conversa como se o dialogador fosse um mago da psiquê humana. A estratégia é tirar o espírito do inferno consciencial que ele transita e tentar identificar qual a dor imediata que poderia ser atenuada. Além do conteúdo que ele já trouxe, esteja atento às inspirações dos amigos espirituais que o auxilia no trabalho assistencial. Peça a colaboração dos médiuns para verificar algo que o perturba naquele momento. A intenção é mudar o foco de seus pensamentos.
Alivie a dor. Com o diagnóstico que atormenta o irmão espiritual, diminua ou aplaque a sua dor. Peça permissão dele antes de agir. Avise que não deseja nada em troca a não ser o prazer de ajudar e talvez a sua amizade. Se for uma dor, aplique uma “injeção”, ofereça um comprimido, dê uma água magnetizada. Se for um corte, limpe a área enferma, medique uma pomada no local e proteja com atadura. Se estiver sujo, banhe-o. E assim por diante. O que se espera é trazê-lo para a calma interior.
Ofereça esperança. Estabelecida a confiança e retirada a dor que o incomodava, informe que é necessário continuar o tratamento e se ele concordar será levado a um lugar seguro e que sairá de lá restabelecido. Apresente o amigo espiritual que vai acolhê-lo de agora em diante. Mostre perspectivas de melhora e de mudança de vida. Vislumbre para ele um futuro diferente. O que se deseja é cuidá-lo com efetividade e ajudá-lo no seu reencontro interior em direção a retomada de seu progresso espiritual.
O “Diálogo da Esperança”, proposto pelo Pai João de Angola, é uma metodologia amorosa de assistência espiritual. Um acolhimento afetivo. Uma conversa de coração para coração. Um encontro de irmãos em Cristo. A esperança de novamente ser feliz.
E felizes serão os aflitos porque serão consolados.
Carlos Pereira
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