quarta-feira, 15 de julho de 2015

A presença do sombrio nas relações afetivas

Buscamos energeticamente nas pessoas de nossa convivência o sombrio e o luminoso que estão na nossa própria intimidade. Projetamos, dessa forma, no outro as nossas necessidades e também nossos talentos adormecidos. Nossas relações afetivas são, por isso, laboratórios de revelação de nossas camadas mais profundas da psique.

No outro, nos vemos e nos revelamos. Aquilo que apreciamos no outro pode ser o ponto de equilíbrio para o nosso sombrio, entretanto, por conta do egoísmo e das crenças enraizadas, podemos transformar o remédio em veneno e passar a tentar destruir esse ponto luminoso do outro, repudiando o que mais precisamos para nós.

(...) Os estudos psicológicos no mundo dos espíritos à luz do espírito imortal deixam claras quais são as três ilusões mais presentes no processo de integração entre o luminoso e o sombrio dentro de nós e que costumam transformar o nosso amor em sofrimento.

A primeira ilusão é acreditar que nosso amor é capaz de modificar quem nós amamos. Não modificamos ninguém e ninguém é capaz de nos modificar se não houver identificação de propósitos e decisão pessoal de mudança. Só mesmo a prepotência pode advogar a ideia de transformação de alguém e intoxicar o amor com raiva e amargura. É essa prepotência que gera a insanidade de acreditar que podemos salvar até quem não quer ser salvo, levando pais, mães, maridos, esposas e famílias inteiras à dor da culpa e da impotência. O nosso amor não será suficiente para resolver problemas que o outro tem de resolver, e isso somente se ele quiser. O que de fato realiza as mudanças verdadeiras chama-se responsabilidade pessoal.

A segunda ilusão é acreditar que somos responsáveis pelas escolhas de quem amamos. Quando amamos legitimamente reforçamos os aspectos saudáveis de quem amamos e não ficamos tentando controlar a vida deles para que não adotem condutas destrutivas. Quando nos sentimos responsáveis pelas escolhas alheias, dispostos a fazer todo sacrifício, como se isso fosse amor, abandonamo-nos e tiramos nossas forças, nossa motivação e nossa lucidez. Em uma relação de amor legítimo não há auto-abandono. Quando isso ocorre, existe sacrifício, e o sacrifício traz a mágoa, as expectativas e as cobranças. Dor na relação é indício de que há necessidade de um aprendizado por parte de quem sofre. Quando você impede alguém de fazer escolhas, ele não aprende e ainda interpreta isso como uma mensagem subjetiva de que não acreditamos em sua competência. O aprendizado só será feito quando o outro tiver auto-responsabilidade. 

A terceira ilusão é acreditar que amar é creditar à pessoa amada uma importância maior do que a nós próprios. É uma atitude de auto-abandono que é a origem da depressão. A lei da natureza nos prepara para a auto-suficiência e, mesmo havendo a lei de sociedade na qual nos amparamos mutuamente e cooperamos uns com os outros, fomos dotados de recursos autoimunizadores para sobreviver independentemente do amor alheio. Se colocamos alguém como a pessoa mais importante da nossa existência, estamos na contramão da evolução e corremos um enorme risco de nos abandonar para cuidar de quem supomos ser mais importante.

Isso tem muito mais a ver com egoísmo do que com amor. Quando damos importância superlativa ao outro, estamos, em verdade, tentando nos realizar no outro, nos sentimos importantes tentando mudar o outro ou fazer algo de bom ao outro para nos sentirmos com algum valor. Essa é uma atitude nociva e que reflete a baixa auto=estima e a educação que muitos de nós recebemos para agradar os outros se quisermos ser amados. 

Trecho do livro Emoções que Curam, capítulo 2. Editora Dufaux.
Autor: Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira