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Fisiopatologia da Arrogância, parte 2

Uma vez, contudo, atingida sua máxima capacidade hipertrófica, as forças espirituais dilatadas iniciarão a inevitável retração compensatória. Dilatando-se o pêndulo psíquico para um de seus lados, o movimento compensador e de direção oposta surge como necessidade, imposta pela lei de equilíbrio, que pede a toda ação uma reação de igual intensidade e sentido oposto. O hiperegotismo será compensado com o movimento oposto, ou seja, a inevitável e acentuada contração da força mental. 

A retração psíquica será também exacerbada, carreando consigo todas as energias perispirituais e físicas, situando-as nas antípodas das intenções inicialmente pretendidas pelo ser, posicionando-o no hipoegotismo

A personalidade deixar-se-á embalar pela completa depleção de suas potencialidades. O sabor das errôneas vitórias se torna pesar, configurando o que denominamos hipopsiquia e que a medicina terrena identifica como a doença depressiva. Todo o organismo se veste de doentio hipodinamismo, respondendo o mundo celular com a hipotrofia e a degeneração de toda sua potencialidade. O funcionamento orgânico torna-se deficiente e a perda de massa celular é resposta condizente com o mesmo padrão hipotônico das forças perispirituais. 

A arrogância perde sua expressão e o ególatra, de sua exaltada posição de valia, precipita-se, embora não o desejasse, na deterioração dos bens roubados da vida, configurando-se a derrocada da autoestima. O orgulho se humilha na menosvalia e a alegria foge da alma. As angústias que habitam os recessos profundos do involuído despertam, convocadas para a sua educação, corroendo todos os seus valores errôneos. O desânimo grassa terreno, o crescimento desmedido, por ação reativa, é forjado ao recolhimento e à contração. Embalado aquém de seus limites naturais, o ser termina por aviltar todos os patrimônios indevidamente amealhados.

Reconheceremos, portanto, que as causas reais e profundas da depressão se encontram nos abusos do poder, na egolatria, na vaidade e na doentia exaltação do ego. Partindo da arrogância e seus exaltados movimentos, compreenderemos facilmente a fisiopatologia em vigência na depressão. A depleção de todos os recursos orgânicos e psíquicos que caracterizam essa patologia é consequência natural dos abusos do amor-próprio na aventura da vida. O desvalimento é a colheita obrigatória dos excessos empreendidos, vicejando a menosvalia onde existiu a supervalia. (...) Eis em última análise a causa dessa enfermidade, doença responsabilizada pela inibição do potencial humano, mas fruto de seus próprios desequilíbrios e imposta a ele por lei de compensação. Não admitimos, na atualidade de nosso conhecimento, outra possibilidade de compreensão para a etiologia de tal doença, justificando a sua existência e necessidade. 

Aquele que se sente carente de valores pessoais e vive premido por angústias depressivas inexplicáveis, encontrará sempre, em prévia e aparatosa exaltação orgulhosa do seu “eu”, a causa da inaparente contração de sua personalidade, identificada, comumente, em justaposta existência anterior. 

Compreendemos assim que o egoísmo e o orgulho são, de fato, as verdadeiras chagas do espírito e os fatores etiológicos da depressão e do suicídio. 

Trecho do capítulo 20, págs. 196 e 197, livro Ícaro Redimido, Ed. Inede, 11ª edição
Autor: Adamastor / Gilson Freire

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