Desde as mais remotas eras da evolução humana, percebemos as criaturas lutando para sobreviver às custas do amealhar recursos no campo da matéria. Quis Deus que assim fosse. Compelidos a lutar e vencer obstáculos, domando a natureza fértil e descobrindo-lhe os segredos e utilidades, estavam os homens ajustados à Lei de Progresso.
Porém, com o passar dos milênios, no que tange ao aprimoramento do campo racional das criaturas e no uso de seu livre-arbítrio, deixando predominar suas tendências e condicionamentos menos felizes, os homens vincularam o sentimento de segurança, bem estar e poder à acumulação de bens materiais. Durante muitos séculos, as ciências sócio-políticas introjetaram na mente humana a correlação entre o “ter” e o “ser feliz”.
Percebemos, então, a reverência exagerada às posses e tronos efêmeros que incitaram nações a combates e conquistas, colocando a aquisição de riqueza e poder muito acima do respeito ao semelhante, do bem-estar dos irmãos que sofrem em penúria às portas dos palácios.
Após tantas existências nesse processo de inversão de valores, é natural que encontremos o homem hodierno portando em seu arcabouço mental o clichê da luta pelo ter, pelo poder, pelo destaque e pelo mando.
Presenciamos em todos os tempos a reverência ao poderio econômico, social e político. Parece-nos, muitas vezes, quase que impossível fugir desse sistema. Mesmo dentro dos templos religiosos, percebemos a busca da riqueza, da suntuosidade, como forma de expressão do poder temporal.
Nesse contexto, “chocamo-nos”, dentro da nossa imaturidade espiritual, com a mensagem sublime e singela de toda uma Vida que, iniciada no ambiente rústico e pobre de uma estrebaria, reflete, na simplicidade do “nada ter” no campo material, toda a sublimidade divina do destino “de ser” das criaturas. Destino este que mostra a sabedoria de Deus a qual, em algum momento da nossa história evolutiva, invertemos em nossa escala de valores. Encontramo-nos hoje em luta com todos estes condicionamentos sedimentados em nosso modo de pensar, interpretar e agir perante a vida.
Quando o Cristo trouxe o amor ao próximo como a si mesmo (1), o dar a túnica a quem pede o vestido (2), o andar a segunda milha a quem solicita o amparo na caminhada da primeira (3), vinha Ele propor uma revisão e mudança de códigos e valores.
Mesmo tendo conhecimento da perfeição que nos é reservada ao longo do nosso destino imortal, mesmo sabendo que o Cristo não tinha onde recostar a cabeça e ainda assim mudou a história da humanidade, resistimos, “involuntariamente”, em abrir mão do muito ter, do comandar e ordenar, para vivermos a simplicidade e singeleza da proposta do Cristo. Nenhum cargo Ele ocupou, nada quis possuir, nenhuma posição de destaque reivindicou para Si mesmo. Na vivência irrestrita da Lei de Amor, exemplificou-nos, mostrando o caminho a seguir.
Cabe-nos agora sedimentar em nossos corações e mentes um novo modo de viver e agir. Que esta proposta crística penetre em nossa vida íntima e se expresse em todos os meios em que atuamos. Possamos perceber que as propriedades que temos buscado amealhar e ajuntar se convertem hoje, para nós, em fator de insegurança e instabilidade.
Tenhamos a lucidez de eleger valores espirituais como meta de vida e que nossas lutas e labores se constituam na aquisição dos tesouros do céu.
Não tragamos para nossos templos de oração, fé e trabalho toda suntuosidade que temos dentro de nós, em detrimento da qualidade de atendimento e amparo humanos que damos ao nosso semelhante. É chegado o tempo de não repetirmos em nossa vivência espírita-cristã os mesmos comportamentos adotados nas existências anteriores, perante os princípios espirituais. Não podemos mais utilizar-nos dos “bens” cedidos por Deus como empréstimo para obrarmos em proveito e interesse próprios. Isto foi o que fizemos em nosso passado. Utilizamos o conhecimento das verdades espirituais para manipular as criaturas em prol de nossas demandas e pontos de vista particularistas.
Sendo a Doutrina dos Espíritos o advento da Verdade, é necessário que estas verdades, penetrando em nosso íntimo, façam luz perante os “desvios” e “atalhos” de nossas jornadas evolutivas e apontem o caminho seguro da simplicidade e pureza cristãs, que nos foram ofertados no clima do mais puro e acendrado amor.
Camilo Chaves
Livro Seara Bendita, capítulo 34
Médiuns: Maria José Soares e Wanderley Oliveira
Quem foi Camilo Chaves?
Nasceu em 28 de julho de 1884, no povoado de Campo Belo do Prata, hoje cidade de Campina Verde - MG. Foi senador, deputado, parlamentar e diretor da Loteria de Minas.
Exerceu o cargo de presidente da União Espírita Mineira. Fez circular com regularidade o “Espírita Mineiro”, com orientação doutrinária segura. Elaborou novos Estatutos e ampliou os Departamentos da Sociedade, como do Conselho Federativo Estadual, obedecidas as normas constantes do “Pacto Áureo” da unificação.
Promoveu o Segundo Congresso Espírita Mineiro, quando da aprovação da “Declaração de Princípios Espíritas”.
Desencarnou em 03 de fevereiro de 1955.
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