“Mas,
a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que
passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem.Esses
infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe
descobrir, sem esperar que peçam assistência.”
O Evangelho Segundo o Espiritismo
– capítulo XIII – item 4
Com
muita freqüência, constatam-se medidas e alertas de vigilância contra o orgulho
nos abençoados ambientes doutrinários. Verdadeira campanha espontânea tomou
conta da seara em torno dos cuidados que se deve ter acerca dos efeitos nocivos
do personalismo. Ninguém há de contestar o valor de tais iniciativas.
Entretanto, enquanto empenhamo-nos contra esse costume, perceptível pela
ostentação com a qual se manifesta, extensa gama de discípulos padece com outro
traço moral enfermiço, nem sempre tão evidente na conduta humana: a baixa
auto-estima. Um infortúnio oculto que solicita nossa atenção.
A
sensibilidade humana tem sido insuficiente para detectar o caos interior em que
vivem inúmeras criaturas, escondendo-se por trás das máscaras sociais, temendo
tornarem conhecidos seus dramas inenarráveis que configuram um autêntico quadro
de “loucura controlada”.
A
mesma raiz que vitaliza a vaidade é responsável pela carência de estima
pessoal. O orgulho que procura brilhar no palco do prestígio, assim como a
atitude de desamor a si mesmo, são manifestações do sentimento de menos valia
ou complexo de inferioridade, que toma conta de multidões sem conta no orbe
terreno.
Podemos
facilmente confundir atitudes de baixa auto-estima com comportamentos
personalistas. Criaturas com escassez de auto-amor lutam para preservar suas
reais intenções demonstrando, para tal, pouca ou nenhuma habilidade através de
atitudes desconectadas de seus verdadeiros sentimentos; adotam condutas
defensivas que podem ser interpretadas como individualismo e ingratidão. No
fundo se debatem com a incapacidade de estabelecerem limites de proteção ao
mundo dos seus sentimentos pessoais. Estão em conflito e reagem de modo nem
sempre adequado ante aquilo que lhes constitui ameaça, deixando clara a
complexidade da alma humana que, para ser entendida em suas ações e reações,
solicita-nos ampliada complacência e largo discernimento.
Quem
analisa um orador, um médium, um dirigente, um tarefeiro iluminado com as luzes
da cultura espírita se , enquanto em suas movimentações doutrinárias, não
imagina a dor íntima que atinge muitos deles na esfera de suas provas
silenciosas no reino do coração. Solidão, abandono, conflitos, medo,
frustrações, impotência e outros tantos sentimentos estruturam um dilacerante
estado de instabilidade e vulnerabilidade, que retratam velhas feridas
evolutivas da alma.
Neste
momento de tormentas atrozes e de frustrações sem fim, conclamemos o valoroso
movimento em torno das idéias espíritas ao serviço inadiável de incentivar o
fortalecimento da estima e do valor pessoal. A casa espírita, como avançado
núcleo de enfermagem moral, necessita ser o local da educação para que o homem
se livre de suas ilusões e promova-se, definitivamente, a legatário de sua
Herança Cósmica. Imperioso que os dirigentes tenham lucidez, porque essa missão
somente será cumprida com acolhimento fraternal, estímulo à autonomia,
tolerância com os limites alheios e tempo.
Decerto,
a idolatria e a purpurina da lisonja são indispensáveis. O privilégio e a
exaltação são incoerentes com o espírito da espontaneidade. O Espiritismo,
convenhamos, combate a atitude egoísta proposital, exclusivista, mas não propõe
a morte dos valores individuais que podem e devem fazer parte da comunidade
como fator gerador de bênçãos, alegrias e exemplo estimulador. O receio do
estrelato e das manifestações individualistas tem culminado em autênticas
“fobias éticas”, que não educam nossas tendências. A luz foi feita para
iluminar, brilhar.
E
ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da
cama; mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz. (Lucas 8:16).
Vós
sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
(Mateus 5:14).
Que
os tarefeiros da causa estejam atentos à fala inspirada do codificador: Esses
infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe
descobrir, sem esperar que peçam assistência.
Olhemos
uns pelos outros com olhos de ver. Muita vez onde supomos existir um doente
pertinaz em busca de realce, encontra-se um coração ferido e cansado, confuso e
amedrontado mendigando amizade autêntica e compreensão. Possivelmente quando
sentir a força do amor que lhes votamos será tocado. Sentindo-se amado, pouco a
pouco, terá motivos para abandonar as expressões de inferioridade que lhe
tortura. Por fim, descobrirá o quanto somos amados, incondicionalmente, pelo
Criador que, em Sua Generosidade Excelsa, nos aguarda no espírito glorioso de
Filhos de Sua Obra.
Oremos
juntos por esse instante de luz:
Senhor,
Tem
piedade das nossas necessidades!
Auxilia-nos
a sustentar o perdão com as imperfeições que ainda carregamos na intimidade.
Ensina-nos
a nos amar, Senhor! A aceitar-nos como somos e a buscar a melhora gradativa.
Fortalece nossa capacidade de amar a fim de estendermos a luz da compaixão em
relação às falhas que cometemos.
Estende-nos
Tuas mãos compassivas! Unge-nos com misericórdia as dores da angústia de viver
trazendo por dentro as sombras do passado!
Ampara-nos,
Divino Pastor; para jamais esquecermos as vitórias já alcançadas. Que elas nos
sirvam de estímulo!
Ante
as lutas e conflitos da alma, abençoe-nos sempre, Senhor, para que nunca desistamos
de combater-nos.
Obrigada,
Jesus, por nos incluir em Teu amor infinito, sem a qual não teríamos forças
para nos suportar.
Obrigada,
Senhor! Hoje e sempre, obrigada!
Livro Escutando os Sentimentos, capítulo 4.
Ermance Dufaux/Wanderley Oliveira
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