terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Ética da Transformação, por Ermance Dufaux

A reforma íntima é um trabalho processual que significa aquilo que obedece a uma seqüência. Em conceito bem claro, é a habilidade de lidar com as características da personalidade, melhorando os traços que compõe suas formas de manifestação: caráter, temperamento, valores, vícios, hábitos e desejos, são alguns desses caracteres que podem ser renovados ou aprimorados.
Nessa saga de mutação e crescimento o maior obstáculo é transpor o interesse pessoal, o conjunto de viciações do ego repetido durante variadas existências corporais e que cristalizaram a mente nos domínios do personalismo.
O hábito de atender incondicionalmente as imposições dos desejos e aspirações pessoais levou-nos à cruel escravização da qual muito será exigido nos esforços reeducativos para nos libertarmos do “império do eu”.
Negar a si mesmo ou “despersonificar-se”, esvaziar-se de “si”, “tirar a máscara” é o objetivo maior da renovação espiritual. Esse grande desafio a ser seguido por todos os que se comprometeram com seriedade nas nobres finalidades do Espiritismo com Jesus e Kardec.
Extenso será esse caminho reeducativo na vitória sobre nossa personalidade manhosa e talhada pelo egoísmo....
O meio prático e eficaz de consegui-lo, conforme ensinam os Bons Espíritos da codificação, é o conhecimento de si mesmo.
Entretanto, para levar o homem ao aprimoramento, ao auto-descobrimento exige uma nova ética nas relações consigo e com a vida: é a ética da transformação, sem a qual a incursão no mundo íntimo pode estacionar em mera atitude de devassar a subsconsciência sem propósitos de mudança para melhor. O espiritismo é inesgotável manancial no alcance deste objetivo. Seu conteúdo moral é autêntico celeiro de rotas para quantos desejam assumir o compromisso de sua transformação. Sem psicologismos ou atitudes de superfície, a Doutrina Espírita é um tratado de crescimento integral que esquadrinha os vários níveis existenciais do ser na ótica imortalista.
Nem sempre, porém, verifica-se tanta clareza de raciocínios entre os espiritistas acerca dessa questão. Conceitos mal formulados sobre o que seja renovação interior têm levado muitos corações sinceros a algumas atitudes de puritanismo e moralismo, que não correspondem ao lídimo trabalho transformador da personalidade, em direção aos valores capazes de solidificar a paz, a saúde e a liberdade na vida das criaturas. Por esse motivo, será imperioso que as agremiações do mundo, erguidas em nome do Espiritismo ou aquelas outras que expandam a luz da espiritualização entre os homens, investiguem melhores noções sobre a ética da transformação, a fim de oferecer a seus profitentes uma base mais cristalina sobe os caminhos e percalços no serviço da iluminação de si mesmo.
A prática essencial e meta fundamental dos ensinos dos bons espíritos são a melhora da humanidade, a formação do homem de bem. O Espiritismo em verdade, está nos elos que criamos, uns com os outros, e que passam a fazer parte da personalidade nova que estamos esculpindo com o buril da educação. Os “ritos” ou práticas doutrinárias são recursos didáticos para o aprendizado do amor – finalidade maior da causa espírita.
Na falta do amor, as práticas perdem seu sentido divino e primordial.
Em face dessas reflexões, evidencia-se a urgência da edificação de laços de afeto nos grupamentos humanos, no intuito de fixarmos na intimidade as mensagens do Evangelho e do bem universal. Afeto é seiva vitalizadora dos processos relacionais e o construtor de sentidos nobres para a existência dos homens.
O autoconhecimento, através das luzes da imortalidade que se espraia dos fundamentos espíritas, é um mapa de como chegar ao “eu verdadeiro”, à consciência.Todavia esta viagem não pode ser feita somente com o mapa, necessita de suprimentos morais preventivos e fortalecedores, necessita de uma ética de paz consigo próprio.  Somente se conhecer não basta, é necessário um intenso labor de auto-aceitação para não cairmos nas garras de perigosas ameaças nessa “viagem de retorno a Deus”, cujas mais conhecidas são a culpa, a auto-punição e a baixa auto-estima as quais estabelecem o clima de martírio. É preciso uma ética que assegure à transformação pessoal um resultado libertador de saúde e harmonia interior. Tomar posse da verdade sobre si mesmo é um ato muito doloroso para a maioria das criaturas." (...)

Trecho do capítulo "A Ética da Transformação",
do livro "Reforma Íntima sem Martírio"
Espírito Ermance Dufaux/Médium Wanderley Soares 

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